Spiga

João Buracão é sensação!

Família Panisset pede desculpas ao boneco
Por: Fernanda Pereira

Depois da decepção de não conhecer o João Buracão, maior celebridade do país na última semana, e do pesadelo de levar três beijos seguidos do apelido "bonequinha" da prefeita de São Gonçalo Aparecida Panisset, alguma diversão eu tinha que tirar da coletiva de imprensa realizada em seu gabinete na última sexta-feira. Qualquer criança no meu lugar teria chorado, diante daquele cabelo vermelho, da sobrancelha pintada e da blusa listrada(com todas cores). Eu mesma, já ultrapassando a segunda década de vida, só não chorei porque a minha geração foi acostumada com o Bozo.

O motivo da reunião sentou-se bem ao lado da Aparecida: o secretário municipal de saúde e irmão da prefeita, Márcio Panisset. Não exatamente ele, mas suas atitudes na última quarta-feira, diante de sua própria casa, no bairro do Gradim, em São Gonçalo. Os dois pretendiam explicar de forma cordial, a razão que o fez parar na 73ª DP (Neves), depois de se envolver em uma confusão com a equipe de reportagem do jornal "Extra". Afinal de contas, o caso teve repercussão nacional e fez até São Gonçalo entrar para o mapa do JN (a edição de quinta-feira comentou o caso).

Para quem não sabe, provavelmente porque estava isolado em alguma ilha deserta por aí, o fotógrafo Fabiano Rocha, acusa Márcio de tê-lo agredido, além de se apropriar de seu material, incluindo o famoso boneco João Buracão. Esse, eu tenho certeza, não preciso explicar quem é. Mas apenas para contextualizá-lo, vou contar sua história.

Um dia uma equipe do jornal foi fazer uma matéria sobre buracos e ao chegar ao local, deparou-se com essa figura carismática, sentada ingenuamente praticando seu esporte predileto: a pescaria em buracos da cidade. Desde então, ele foi promovido à personagem oficial de todas as matérias com esse tema. O público fascinado pelo seu poder político, começou a enviar cartas pedindo sua visita.

Centenas de correspondências começaram a chegar à redação do jornal, que passou a publicar a lista dos lugares que seriam beneficiados pela ilustre presença de Buracão. Antes mesmo de sua chegada, os buracos eram tapados. Algumas autoridades preocupadas tentaram inclusive pegar carona na popularidade de João. Até o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, dedicou um precioso tempo de sua agenda para recebê-lo. Que cena!

Mas, o Secretário Municipal de Saúde de São Gonçalo, Márcio Panisset, preferiu dar outro tipo de tratamento ao pobre militante defensor dos fracos e oprimidos e inimigo dos buracos entupidos (podre essa riminha!). Ele é acusado de "sequestrar" e decapitar o pobre do João. Por quê?

Bem, o texto enviado pela assessoria da prefeitura, convidando a imprensa para a coletiva (release), dizia que "ao ouvir um burburinho no portão da casa, onde mora, e perceber que lá havia um boneco, o qual desconhecia como personagem de um quadro de um dos maiores jornais do Brasil, o jornal 'Extra' (oh Jabá!), o secretário de saúde, realmente agiu de forma inesperada, pensando em se tratar de chacota com o seu nome e de sua família. Tal ação não teve intenção de silenciar a imprensa, pois não é do feitio do secretário esse tipo de atitude, mas quando descobriu que se tratava de jornalistas, o mal já estava feito".

O texto é desmentido pelo próprio durante a coletiva, quando ele diz: "Eu gostaria de pedir desculpas ao fotógrafo Fabiano Rocha, que eu conheço faz tempo e sei que é uma pessoa maravilhosa", entregando que sabia se tratar de uma equipe de reportagem. E acrescenta: "Eu conheço a Carol desde a época da minha campanha eleitoral", referindo-se a Anna Carolina Torres, jornalista envolvida na confusão (que só possui 20 e poucos anos e não 30 como os jornais disseram - só pra constar, coitada!).

O evento que o texto dizia ter por objetivo "acabar com o constrangimento e o mal entendido" e convidava "o personagem 'João Buracão' e sua equipe de jornalistas" foi sem dúvidas um dos momentos mais constrangedores para a família Panisset. A começar pelo bolo que Buracão deu nos dois. Ocupado com seu interminável trabalho pela cidade, João ignorou o convite. Mas o jornal tratou de enviar um debochado jornalista, Camilo Coelho, que figura!

Quando lhe perguntaram por que ele não trouxe o boneco, ele exclamou: "Ele está trabalhando!" E o mais incrível, todos se referiam a João o tempo todo, como se fosse uma pessoa. E a prefeita até disse: "Ele vai ter realmente trabalho em São Gonçalo, vocês vão achar muitos buracos", disparou antes de tentar justificar com a desculpa da falta de verbas.

Depois de um blá blá blá interminável da Aparecida Panisset, que chegou a pedir desculpas à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), mas não a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) - será que ela confundiu? - finalmente chegamos às explicações. Uma aula para mim, que farei monografia sobre gerenciamento de crise de imagem. Claro que, como um exemplo a NUNCA ser seguido.

Primeiro pela exposição gratuita da prefeita, já que apesar de irmã, não tinha nada a ver com o caso e que, talvez por medo de passar a palavra ao Márcio, ocupou quase todo o tempo da coletiva falando. Grande parte da história foi contada por ela, que nem presenciou o ocorrido. Em segundo lugar, pela falta de unidade, parecendo que os dois se quer conversaram antes de se exporem à furiosa imprensa.

Pra começar, o que o secretário fazia antes das cinco horas da tarde em casa, que não estava trabalhando? A prefeita contou que ele estava em uma reunião sobre assuntos de farmácia. O vídeo exibido no site do jornal "Extra", feito pela repórter multimídia Carol (que nunca larga sua digital), mostra Márcio de bermuda. Trajes nem um pouco apropriados, não?

Continuando... ela conta que mora com a mãe de 83 anos e que a idosa sofre, inclusive, de problemas de audição. Que quando precisa falar com a mãe pelo telefone, grita. Segundo ela, a mamãe Panisset estava em casa e poderia ter morrido com aquela confusão, pois foi a primeira a ouvir o barulho. "Mas ela não é surda?", pergunta o Camilo Coelho, repórter do Extra. A prefeita respondeu que o som deve ter sido "ensurdecedor"( é pra rir?). "Mas buracão é mudo", finaliza o jornalista.

Tentando acabar com o mal estar que se estabeleceu, eu perguntei ao secretário se ele também tinha ouvido o barulho. Mas quem me respondeu foi a prefeita: "Não". O Camilo intervem mais uma vez: "Não foi pra ele a pergunta?". E Márcio concorda: "Deixa eu falar, porque era eu que estava lá" (se eu fosse a Panisset, pedia pra ir ao banheiro e ia pra casa). Ele diz que ouviu e define o barulho como vozes (o texto da assessoria chamava de burburinhos, lembra?).

Márcio relata o acontecimento: "Ao chegar ao portão, a confusão já estava armada. Meus vizinhos disseram que os jornalistas tentaram pregar o boneco no portão da minha casa. Eu não vi. Todos nos conhecem e são nossos amigos, por isso se revoltaram com essa atitude. Eu me dirigi ao Fabiano e sugeri que a matéria fosse feita em outro lugar, já que na minha rua, não há buracos (pra lá não faltou verba). Cheguei a convidá-los para vir outro dia na prefeitura. Em nenhum momento houve contato físico".

"Não houve contato físico e o fotógrafo não te entregou o equipamento, como ele foi parar em sua posse, já que no vídeo você aparece entregando a máquina para a equipe?", eu perguntei. Ele alegou que seus vizinhos pegaram o equipamento e quando viu pegou de volta para entregar, mas o Fabiano se recusou a receber.

O Camilo perguntou por que ele "sequestrou" o boneco, mostrando a última foto tirada, onde João aparece na rua e não no portão da prefeita, como os vizinhos alegam. "Porque ele estava na passagem, eu só queria passar. Então levei ele pra um lugar reservado "(dentro da casa dele).

Em relação aos "capangas", que o jornal apontou como "agressores" de Buracão, Márcio chamou de amigos e afirmou não andar com seguranças. E o melhor da história: "O único que anda comigo é Gabriel. Quando saio, ele sai comigo; quando volto pra casa, ele volta comigo e quando vou dormir, ele dorme comigo", declarou o secretário. Acalmem-se, ele se refere ao anjo Gabriel.

Aliás, todo o tempo eles se apegam à religiosidade e à imagem de família cristã para conquistar o perdão dos envolvidos, o que inclui toda a imprensa, a qual se sensibiliza sempre que um colega é impedido de fazer seu trabalho. Digo mais, acho que toda a população se sente agredida, uma vez que ainda tememos o velho fantasma da censura, que assombrou os anos de ditadura.

Por fim, Márcio encerra pedindo perdão ("porque a bíblia não fala em desculpas, fala em perdão", palavras dele). E a prefeita faz o mesmo, acrescentando: "Só acho que também merecemos desculpas da sociedade, porque nossa casa é o descanso do guerreiro" (Mas o secretário ainda estava em horário de expediente).

Atenção às frases finais da prefeita: "Parabéns ao jornal 'Extra' pela criatividade e ao 'Tião Buracão' (ainda erra o nome do cara), pelo trabalho. Gostaríamos de recebê-lo em breve na prefeitura".

Camilo: "Tem que consultar a agenda, né prefeita?".
Panisset: "Sim, tenho que consultar a minha agenda".
Camilo: "Não! A agenda do Buracão, ele é muito ocupado!"

12 comentários:

  Anônimo

14 de março de 2009 às 20:32

Fernanda fantástico essa matéria eu li no extra e fiquei decepcionado, pois votei nessa senhora vulgo Panisset que ocupa hoje a prefeitura e que mostra hoje seu verdadeiro carater, agora ela não precisa fazer mais nada pois sua meta já foi atingida que foi a reeleição, temos pela frente quatro anos de sofrimento e muita coisa ruim há de vir ainda, triste realidade. E pensar que eu colaborei pra isso.
Linda matéria filha você vai longe.
Fernando Pereira - São Gonçalo

  Marcus Lacerda

14 de março de 2009 às 22:13

Muito boa a entrevista.
Eu não sei como pessoas com a Aparecida ainda continuam no poder...
Ou a população é burra ou ela é esperta demais! =/

Adorei o Grand Finale!

  Anônimo

15 de março de 2009 às 00:01

Gostei da crítica Fernandinha. Eu penso que isso é consequência da escolha que nós Gonçalenses ( eu não escolhi a família Panisset, mas tudo bem. rs)fizemos para assumir a prefeitura de nossa cidade. Que sirva de aprendizado para escolhermos melhor os nossos votos, pois nós temos o poder em nossas mãos, o direito de exercer a democracia, e se não bastasse errar uma vez no primeiro mandato dos Panisset, o erro se repetiu mais uma vez nas últimas eleições. Chega a ser bizarro ver uma prefeita fazendo coletiva para a imprensa se retratando por uma situação dessas, tantas coisas a se preocupar, como a saúde, educação ( há poucos dias ví em uma reportagem em que crianças não estão assistindo aulas pela escola municipal estar infestada de pulgas!), transporte... Além da retratação então, da agressão ao coitado do boneco, ela poderia fazer sobre esses assuntos também! Se bem que penso que, quem deveria cobrar isso é a sociedade civil ( e eu me incluo nisso), pois se estão no poder é para nos representar e não fazer isso como uma forma de favorecimento e enriquecimento familiar. Vamos participar dos Conselhos Municipais minha gente!!

  Fernanda Pereira

15 de março de 2009 às 00:10

Estou adorando os posts, vejo que meus amigos são cidadãos conscientes e revoltados com essas atitudes. É importante pensarmos nessas questões de votos, porque ela não pode voltar mas é bem possível que tente empurrar seu irmãozinho encreiqueiro.
Eu fiz essa matéria da escola com pulgas e de outros problemas nessa mesma unidade. Também chegam a nós muitas denúncias da saúde do município, muitas coisas que não são levadas a público.
E convido vcs a pensarem em mais uma coisa que será o assunto do meu próximo blog. Apesar da euforia que o buracão tem causado nos jornais e em seus leitores, buraco não é o único problema social, a´liás é o menor deles. Digo isso, porque o maior problema dos eleitores gonçalenses sempre foi dar valor as pequenas atitudes.
Visitem de novo, que vou falar sobre isso. Obrigada pela atenção!

  Anônimo

15 de março de 2009 às 12:10

Fantástico seu trabalho, nossa cidade precisa de iniciativas como a sua. Parabéns pelo blog e não deixe de levá-lo à frente.

  Renan Barreto

17 de março de 2009 às 00:43

Antes de começar gostaria de dizer que eu sou o Renan original e que comentário de Renan sem zoar SG não é comentário meu. rs Agora posso comentar o post kkkkkkkkkkkkk Eu adoro São Gonça. eu naõ viveria sem essa bela cidade. A panisset poderia confundir ABI com ONU, mas OAB é sacanagem. O texto está muto divertidfo Fê, nem parece que você escreveu. Não que seus textos não sejam divertidos, mas você sempre puxa para o lado mais sério das situações. Eu ri muito com o post. Esse povo é muito sem noção. E só pra terminar, ela disse que "nossa casa é descanso de guerreiro". Guerreiro é São Jorge, é católico ou macumba. Crente não tem isso não... Essa Panisset... E outra, faço um apelo público, façam alguma coisa com os viadutos de SG, eles tornam-se SG water planet em dias de chuva. Ah! Pisei em vários buracos de SG também.

Valeu! E naõ deixe de escreve no seu blog, hein!

  Anônimo

17 de março de 2009 às 14:20

Parabéns Fernanda! pela forma que desenvolveu sua matéria, inteligente, clara, porém objetiva.A falta de resppeito, o descaso que a população de um modo geral vem sendo tratada, tem sido o ponto forte nesse governo, penso que acham que estão acima de todas as coisas. "como deuses" É a certeza da IMPUNIDADE que os garante.

  Anônimo

18 de março de 2009 às 11:51

Adorei!!!Nunca li uma narrativa tão bem feita sobre o João; parabéns Fê. Quanto ao Renan "verdadeiro"...prato cheio pra ele, que o contrário do comentado, detesta SG, né Renan?!kkkk. Mas eu tenho esperança de que um dia, como o Renan "falso" (sem ofensas), vc possa chamar nossa emburacada cidade de sua!! (HÊÊ PRAGA) rsrs... aí sim vc vai estar fazendo humor negro, já que estará rindo da própria desgraça kkkk. Há... Pendotiba tb não é nenhum paraíso!

  Anônimo

18 de março de 2009 às 13:47

Cara,realmente constrangedor.Não li os comentários mas acredito que todos tenham se divertido e ao mesmo tempo se sentido envergonhados ao conhecer esses detalhes.
Bom, o que dizer?
Talvez fosse melhor se eles não tivessem nem se pronunciado a respeito, ou apenas enviado uma nota aos jornais pedindo desculpas pelo ocorrido. É incrível perceber a falta de organização. Sim porque até para sair de uma situação como essa(difícil), é preciso de um mínimo de inteligência e organização. Ahh cara de pau também neh. Acredito que quase tão ruim quanto os escândalos concernentes à corrupção, o descaso com a cidade, a falta de respeito com seus representados é fazer um papelão desses numa coletiva. Se o nível de nossos representantes é esse, qual será o nosso?(pergunta retórica)

  Renan Barreto

20 de março de 2009 às 00:47

A Joyce passou mais tempo falando de mim do que do texto... Essa gente me ama rsrsrs

  Gabriel Saboia

20 de março de 2009 às 10:50

O mais importante disso é a saga do João, que ganhou um irmão, e muitos outros parentes espalhados por São Gonçalo e região. Honestamente, eu não esperava uma atitude diferente da dignissima prefeita e seus familiares, visto que o próprio bairro onde moram é constantemente assolado(ou alagado) com chuvas que criam verdadeiros RIOS nas ruas. EU já vi um BARCO por lá, por ser antigo frequentador da região ;D

E viva São Gonçalo.

  Fabricio

1 de abril de 2009 às 01:08

Acompanho a saga do João Buracão todos os dias no Jornal Extra, ele é meu herói!